Borrellho-de-coleira-interrompida

Charadrius alexandrinus Linnaeus, 1758. Ordem Charadriiformes, subordem Charadrii.

Descrição

  • Ave costeira de pequena dimensão, entre 15 e 17,5 cm de comprimento e 40-50 gramas de peso, com dorso castanho-acinzentado e ventre branco.
  • Apresenta dimorfismo sexual na plumagem.
  • Durante o período reprodutivo, os machos apresentam coloração mais vistosa, com faixa frontal preta proeminente e colarinho aberto da mesma cor; e geralmente a coroa (topo da cabeça) em tom mais alaranjado ou, mais intenso que nas fêmeas.

Distribuição, abundância e tendência

Nidifica em zonas húmidas da Eurásia e do Norte de África, cuja tendência, a nível europeu, tem sido caracterizada nas últimas décadas por um declínio da maior parte das suas populações, acompanhado por uma contração da área de distribuição no centro e noroeste da Europa, zona onde a população diminuiu 25-50% desde 1950.

Em Espanha nidifica preferencialmente na costa mediterrânica e na Andaluzia (86% da população reprodutora contada em 2007), enquanto na costa norte cantábrica-atlântica a população é pequena, visto que só se encontra na Galiza. A sua presença nas Ilhas Canárias está restrita às ilhas orientais. Está também presente em zonas do interior peninsular, principalmente nas regiões de Castela-La Mancha, Andaluzia, Aragão e Extremadura

Em Portugal está presente em praticamente toda a costa continental, exceto nas zonas rochosas e onde a presença humana é muito intensa. É mais abundante no litoral centro, com destaque para os sapais da Ria de Aveiro e no litoral sul do Algarve. Destaca-se também no Norte a costa de Esposende e, na região de Lisboa, no estuário do Tejo. Nos Açores está presente nas ilhas Terceira e Santa Maria, enquanto no arquipélago da Madeira apenas na ilha do Porto Santo e em números muito reduzidos.

A população espanhola foi estimada em 2007 em 4.322-4.645 casais, enquanto, com dados de 2007, ou de 2018-2020 para 5 Comunidades Autónomas, a estimativa mais recente é de 3.312 casais. A população reprodutora portuguesa era de 2.056-2.269 aves em 2021.

Em Espanha, a população nidificante foi considerada estável na década de 1980 e no início da década de 1990, embora com diminuições moderadas nas zonas costeiras. As 5 autonomias que dispõem de informação atualizada (Galiza, Andaluzia, Ilhas Canárias, Comunidade Valenciana e Ilhas Baleares) apresentaram no seu conjunto um declínio de -52% no período 2007-2020. Em Portugal observou-se uma redução de pessoal de quase 46% no período 2002-2021.

  • Situação legal e de conservação

Está incluído no Anexo I da Directiva Aves (2009/147/CE), a nível espanhol na Lista de Espécies sob Regime de Protecção Especial (LESPRE, Real Decreto 139/2011, de 4 de Fevereiro) e na Galiza na categoria de “Vulnerável” no Catálogo Galego de Espécies Ameaçadas (DOGA, 88/2007 de 19 de Abril).

No Livro Vermelho das Aves da Espanha é considerado “Em Perigo de Extinção” 

Na lista vermelha das aves de Portugal continental 2022 tem o estatuto de “Vulnerável” enquanto reprodutor e de “Em Perigo” enquanto invernante.

Seleção e reprodução de habitat

A maior parte da população ibérica surge associada a habitats costeiros, principalmente representados por diferentes ambientes de zonas húmidas e praias com ecossistemas dunares. Em localidades do interior da península, a espécie tende a ser mais comum em sapais ou lagoas salobras, embora esteja presente em outros tipos de ambientes de água doce, como grandes reservatórios, lagoas artificiais de água ou arrozais

O sistema de acasalamento da espécie foi descrito como poligamia sequencial, com ambos os sexos tendendo a acasalar com outros membros da mesma espécie após um evento reprodutivo. Nas populações ibéricas, um elevado número de indivíduos regressam para procriar no mesmo local ano após ano; no entanto, esta filopatria é muito menos acentuada nos juvenis, sendo menor o número de indivíduos que regressam à área natal.

O período de postura estende-se de março a julho. Depositam os ovos diretamente no substrato, numa taça pequena que podem decorar com pequenas pedras e restos de plantas e cascas de moluscos. Os ovos são de cor castanho-clara ou castanho-acinzentada clara, com manchas ou listas pretas, geralmente concentradas na extremidade mais larga.

O tamanho da postura é de 3 ovos, com período de incubação de 23 a 29 dias. O ninho é incubado por ambos os pais, geralmente a fêmea durante o dia e o macho à noite. Cerca de 6 dias após a eclosão, um dos adultos, mais frequentemente a fêmea, geralmente desiste de cuidar das crias.

O desenvolvimento da cria até a aquisição da capacidade de voar dura entre 27 e 31 dias.

Alimentação

A base da dieta são os invertebrados, mas existem variações geográficas na sua composição dependendo da disponibilidade de presas. No litoral alimenta-se preferencialmente de crustáceos, poliquetas e moluscos, enquanto nas zonas húmidas do interior consomem larvas e adultos de insetos. Apresenta preferência pela busca de alimento durante o dia, com menor atividade trófica à noite.

Movimentos

Em algumas localidades comporta-se como um migrante estrito, enquanto em outras pode ser considerado um migrante parcial. A maioria dos exemplares autóctones invernam na costa atlântica ibérica, mas também chegam indivíduos de populações extra-ibéricas numa percentagem até agora desconhecida.

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Principais ameaças

  • Destruição e alteração de habitat
  • Atividades recreativas nas praias
  • Gestão de detritos das marés nas praias
  • Perda da qualidade do habitat
  • Aumento da predação
  • Poluição
  • Alterações climáticas

Referências bibliográficas recomendadas

  • Amat, J. A. 2016. Chorlitejo patinegro. En, L. M. Carrascal & A. Salvador (Eds.): Enciclopedia Virtual de los Vertebrados Españoles, Museo Nacional de Ciencias Naturales. Madrid.
  • Bronskov, O. & Keller, V. 2020. Charadrius alexandrinus, Kentish Plover. En, V. Keller, S. Herrando, P. Vorisek, M. Franch, M. Kipson, P. Milanesi, D. Martí, M. Anton, A. Klvanova, M. V. Kalyakin, H. G. Bauer & R. F. B. Foppen (Eds.): European Breeding Bird Atlas 2: Distribution., Abundance and Change., pp. 300-301. European Bird Census Council & Lynx Edicions. Barcelona.
  • Catry, P., Costa, H., Elias, G. & Matías, R. 2010. Aves de Portugal. Ornitología do território continental. Assirio & Alvim. Lisboa.
  • Gómez-Serrano, M. Á., Macarena, E., Domínguez, J., Pérez-Hurtado, A., Tejera, G. & Vidal, M. 2021. Chorlitejo patinegro Charadrius alexandrinus. En, N. López-Jiménez (Ed.): Libro Rojo de las Aves de España, pp. 375-385. SEO/Birdlife. Madrid.
  • Gómez-Serrano, M. A. & Hortas, F. 2022. Chorlitejo patinegro, Charadrius alexandrinus. En, B. Molina, A. Nebreda, A. R. Muñoz, J. Seoane, R. Real, J. Bustamante & J. C. d. Moral (Eds.): III Atlas de las aves en época de reproducción en España, SEO/Birdlife. Madrid.
  • Rocha, A. 2022. Censo nacional de Borrelho-de-coleira-interrompida. En, H. Alonso, J. Andrade, J. Teodósio & A. Lopes (Eds.): O estado das aves em Portugal, 2022, pp. 70-75. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Lisboa.